O lucro do lixo
- Clarice Couto - Época
- Mar 14, 2012
- 2 min read
Melhor olhar com carinho para a lixeira do escritório. Um número crescente de empresas começa a extrair materiais nobres e a obter novos produtos a partir de resíduos como vísceras de animais e casca de arroz. As start ups que reutilizam o lixo atraem grandes empresas e fundos de investimentos

A Senergen, instalada em Lorena, no interior paulista, também vive do lixo. A empresa criou uma tecnologia batizada de Probem, patenteada em mais de 20 países. Trata-se de um conjunto de equipamentos que transforma restos de todos os tipos em novos materiais. A companhia processa, por exemplo, 20 toneladas diárias de pneus usados. Eles são coletados pela Reciclanip, uma entidade criada por grandes indústrias do setor como Bridgestone, Goodyear, Michelin e Pirelli. Depois, o material é processado em reatores especiais que praticamente desconstroem os produtos originais. O resultado final da transformação é usado na produção de artigos de borracha de cor preta, como tapetes de carros. Outro subproduto desse sistema é o limoneno, um óleo de aroma cítrico, amplamente empregado em aromatizantes e cosméticos.
Fábrica de Soluções - A Senergen encontra uso comercial para diversos tipos de resíduos
Há outras aplicações surpreendentes. Das vísceras do gado é extraído um óleo, empregado na composição de um plástico, usado em para-choques de carros. A casca de arroz também dá origem à sílica, insumo básico para a produção de vidro, também aproveitado pela indústria de tintas e pneus. Na verdade, a Senergen, empresa dirigida por Roberto Paschoali, ex-presidente do Lloyds TSB Bank no Brasil, atua como uma desenvolvedora de soluções. Se um cliente precisa encontrar destino para um resíduo, os técnicos da companhia analisam a composição química do material. Posteriormente, definem qual infraestrutura e processos são indicados para extrair matérias-primas com aplicações comerciais. “Por fim, criamos uma nova empresa, em que a Senergen e o cliente são acionistas. Depois, dividimos o lucro proveniente da reciclagem”, diz Paschoali.
Além da perspectiva de bons lucros, a legislação tem atuado como uma fonte de estímulo adicional para o surgimento de novas empresas, como Bioware, Unnafibras e Senergen. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada no ano passado pelo Congresso, determina que, a partir de 2014, a iniciativa privada e o poder público serão obrigados a reciclar ou tratar resíduos. Mais que uma medida recomendável, o mercado do lixo transformou-se numa obrigação.
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT223333-16368,00.html
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